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Respirar arte para ser o que é

Atualizado: 22 de jun. de 2020

“Não sei se a Arte nos deve salvar, mas tenho a certeza de que pode conduzir ao melhor que há em nós para que não nos desperdicemos na vida.”

valter hugo mãe


Falar sobre arte implica em falar sobre a vida humana. Dessa vida ordinária, comum, permeada de afetos, conflitos, desavenças e amor. Dessa vida social estruturada por opressões, resistências, denúncias e lutas diárias. Desse tecido composto por tantos retalhos distintos, mas costurados por uma linha em comum, que conecta diferentes realidades e nos lembra porque se vale a pena viver, sentir, amar, chorar, lutar. Que nos despe de nossas falsas máscaras de felicidade. Que nos dá respiro em meio a um contexto que nos furta o brilho de viver. Que nos acompanha na dor, na morte, nos lutos, no desamparo. Que nos empresta palavras para nomear sensações ou abdica delas para nos fazer sentir. A arte é esta linha que costura os tecidos da vida e nos faz lembrar de quem somos: humanos. 


Vivemos em um contexto apartados daquilo que nos torna humanos, sem espaços para dar voz aos sentimentos e conflitos que emergem dentro de nós. Tem-se apreço pelas máscaras, valoriza-se cada vez mais um ideal de ser em detrimento de quem se é. Até a música começar a tocar e a poesia vir ao nosso encontro - nos emocionando, nos contagiando, nos conectando: uns aos outros, ao tempo presente, à realidade social, à realidade de cada ser. A arte nos convida a despir das máscaras, nos ajuda a viver o que se é e nos ensina a sermos menos neuróticos e mais empáticos. Porque se sensibilizar com a arte é escutar o outro. É dialogar com o artista,  colocá-lo diante de si, enxergá-lo - e enxergar a si mesmo. É sentir com ele e transbordar de si. 


Respiro arte para me lembrar que sou humana, e como tal necessito desse oxigênio para arejar minhas pulsões, dar voz às minhas dores, ter combustível aos meus anseios; para encarar os vícios, defeitos, faltas e vazios que me habitam. Mas que encontram companhia quando tocados pela poesia: a Noite Estrelada de Van Gogh, que traz brilho e acolhimento aos dias cinzentos; as reflexões de Clarice que me convidam a mergulhar nas profundas águas do vazio existencial; o ritmo de Novos Baianos colorindo os dias com a cadência do samba ou ainda Gonzaguinha me anunciando o quão bonita é a vida. Para cada tristeza e desesperança há uma composição que nos alcança, nos acolhe e nos salva. 


E assim a arte contagia e desenvolve consciência, emancipa o sujeito, abrindo espaço para que ocorram alterações de percepções sobre si e o mundo. A literatura fornecendo palavras a muitos de nossos sentimentos; a fotografia convidando-nos a explorar novas perspectivas; o teatro, novas vozes e personas; a dança, novos formatos, movimentos e contornos. E para quando nos sentirmos perdidos e cansados, que acessemos a arte para respirar, revigorar e nos (re)encontrar. De novo e mais uma vez. 



Sara Ludwig Moraes

Atriz do grupo O Bando

grupo comunitário da Casa Vermelha

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