A fotógrafa Julia Perosa, que também é integrante dos grupos Teatro em Trâmite e O Bando, compartilha suas percepções a respeito do documentário Janela da Alma (2001), de João Jardim e Walter Carvalho. Você também pode assistir à produção online nos serviços NetMovies e Looke.
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O documentário Janela da Alma, dirigido por João Jardim e Walter Carvalho, foi lançado em 2001. Sua temática principal é falar como os diversos problemas de visão atingem as vivências do ser humano, para isso, foram coletados depoimentos de 19 pessoas com alguns desses problemas que relatam suas experiências com desde pequenos problemas de visão embaçada até cegueira total.
Dentre os entrevistados estão diversas personalidades das artes em geral como o músico brasileiro Hermeto Pascoal, o cineasta Win Wenders, o escritor José Saramago, a fotógrafa e cineasta Agnes Varda, entre diversas outras pessoas com problemas de visão, famosas ou não famosas. Todos contam como a sua percepção se dá ou se transformou depois de descobrirem seus problemas de visão, a maioria das histórias mostram um lado positivo sobre a situação (por mais estranho que pareça), pois vivemos em um mundo de diversas sensações que se expressam em cada um de diversas maneiras. Alguns entrevistados contaram experiências não tão positivas, como a animadora Marjut Rimminen que fala sobre os problemas de autoestima que teve devido ao estrabismo.
O documentário nos traz uma reflexão sobre como são diversas as maneiras de perceber o mundo ao nosso redor, e como a visão é um meio muito importante e valoroso nessa percepção, mas não é o único. Destaco o depoimento da Agnes Varda sobre as gravações que ela fez de seu companheiro e como isso foi importante para ela depois que ele faleceu, ela gravou takes bem de perto da pele dele, mostrando todos os pelos e a textura, quando o mesmo estava já perto da sua morte, para lembrar de coisas que não poderiam ser mais vistas depois que ele morresse (que seria sua aparência de perto). É muito especial essa fala, pois mostra a delicadeza do sentimento da cineasta em relação a visão ou as imagens de alguém muito querido.
Em contrapartida, há o depoimento de Arnaldo Godoy, que perdeu a visão aos 19 anos, e fala sobre ter que começar a se ater a outros tipos de sensações em um carro, por exemplo, no caminho para sua casa, ele se concentra nas subidas, descidas e curvas formando assim, um mapa em sua mente. Ele também fala sobre viver de lembranças de imagens de lugares que ele conhecia antes de perder a visão, e buscar isso em sonhos.
A maneira que o documentário é produzido é muito interessante porque ele mistura takes das entrevistas com takes de imagens desfocadas, imagens escuras, muito aproximadas e isso causa um desconforto visual, a princípio, mas vê-se que esse é o objetivo dos autores.
Por fim, o filme nos é muito ricos como fotógrafos pois lidamos com imagem e para não fazermos algo que será mais do mesmo temos que buscar nossas diferentes percepções. É imprescindível para um fotógrafo a aproximação com outros tipos de arte como música e dança, isso nos traz mais riqueza no olhar e nos faz perceber o mundo de maneiras mais complexas.
Julia Balbinotti Perosa
Teatro em Trâmite e O Bando
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